sábado, 4 de outubro de 2014

Brasil FC

Charge: Jornal de Uberaba
Não é um campeonato de futebol. Mas boa parte do eleitorado age como torcida. Não importa se o time joga mal, se o juiz roubou, se o passado condena o clube. O que vale é vencer. A pessoa escolhe um lado para torcer e ignora todos os seus defeitos. Define um rival para combater e o ataca com toda fúria e preconceito. Uma rápida olhada nas redes sociais confirma a tese das eleições-campeonato. 

Só pra citar os três principais candidatos ao título de Presidente: 

1- Dilma é criticada pelos torcedores tucanos por ter sido guerrilheira. Mas, convenhamos, se ela tivesse conservado os ideais da época em que acreditava nos princípios românticos da esquerda, não seria conivente com a corrupção orquestrada pelo PT atualmente. Mais dos reclamões: os projetos sociais implantados pelo partido, inegavelmente importantes para o País, são tachados de assistencialistas por uma elitizinha (que, em muitos casos, nem elite é). Já a torcida dilmista fecha os olhos. Não enxerga as quadrilhas que existem no Partido dos Trabalhadores e não são combatidas internamente. É um povo que ainda acha descolado usar camiseta com imagem do Che Guevara e defende a ditadura, desde que seja a cubana. O novo eleitorado do antigo "rouba, mas faz".

2- Quanto a Marina, tucanos e petistas se juntam para alardear a religiosidade da candidata como um desvio de caráter. Vejo gente comentando como crime o fato dela abrir a Bíblia antes de uma decisão importante. Ora, qual o problema de alguém rezar o Pai Nosso, pedir proteção aos orixás ou meditar em frente a uma estátua de Buda? Nenhum, desde que a pessoa não seja fanática. E Marina não tem o menor traço de fanatismo. O aparente despreparo da ecologista, o improviso do programa de governo, as mudanças eleitoreiras de opinião e o partido de aluguel, que são as fragilidades reais da candidatura, ficam em segundo plano entre os críticos. Os marineiros, por sua vez, se recusam a reconhecer essas falhas e as empurram para debaixo da terra. 

3- Aécio tem no suposto consumo de cocaína o principal combustível para os ataques da torcida adversária. Só não conheço quem tenha provas de uma internação ou mesmo de uso esporádico do entorpecente. Esses mesmos críticos fingem que não foi o PSDB que controlou a inflação surreal do Brasil. Por outro lado, os defensores do mineiro minimizam os 14 milhões de reais liberados pelo então governador Aécio para o aeroporto na fazenda do próprio tio, o mensalão do PSDB em Minas Gerais e a roubalheira que foi a privataria nos Governos FHC. Para os engomadinhos tucanos só a corrupção petista é vergonhosa. 

Com a disputa acirrada entre os líderes, o show sobrou para os pequenos. A radical Luciana Genro; o bicho-grilo Eduardo Jorge; a marionete do Aécio, Pastor Everaldo e o imbecil do Levy Fidelix tocaram em assuntos polêmicos de que o G3 se esquivou para não perder votos.

Domingo é o dia. Seria bom se todos lembrassem que política não é futebol. E que urna não é latrina, embora muita gente não se importe em fazer do voto  produto do aparelho excretor. Que vença o melhor. Ou o menos pior.

Por Romeu Piccoli

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Quadriamor*

Nem foi preciso apertar a mão dele, logo quando cheguei à casa, para saber que suava. Suava de nervoso. Wesley tinha acabado de descobrir que seria pai de quadrigêmeos. Quatro bebês de uma só vez. Não fosse o choro da noiva, ele nem teria acreditado, teria dado risada com o telefonema dela. "Amor, são quatro bebês. O que vamos fazer agora?"

Ele, funcionário de um mercadinho no extremo norte de São Paulo. Ela, operadora de telemarketing. Juntos não ganham mais do que R$3.500. "Se fosse um bebê, era super natural. A gente ia alugar uma casa. Mas, mas com 4, não tem como", explica ele, com os olhos permanentemente em movimento. O jovem de 27 anos ainda não tem jeitão de pai. Parece agitado. Às vezes, meio perdido. Talvez, assustado com toda a responsabilidade que o espera.

Carol, a noiva, também tem cara de menina. Os dois planejavam se casar, juntar dinheiro, ter o próprio espaço. Filhos eram um projeto de futuro. Um futuro que chegou muito antes do esperado, apesar dos 11 anos de relacionamento. O namoro da adolescência teve algumas rupturas, mas venceu o tempo. E, no primeiro encontro com o casal, qualquer pessoa já consegue entender por que. Carol e Wesley se gostam. Se tocam. Trocam olhares cúmplices. Em uma ou duas horas de conversa, constatei que os dois estão realmente juntos. Fiquei aliviada pelas crianças. É bom nascer de um amor que sobrevive.


Primeiro dia de gravação com o "Casal Quádruplo"
O sexo dos bebês ainda é uma incógnita. O que se sabe é que serão os quatro idênticos. Para Carol, melhor se forem meninas. A jovem de 26 anos ganhou uma rotina de enjoos e perdeu o sono. Na cama, fraldas, macacões, calças de bebê ocupam o espaço que os ursinhos de pelúcia perderam. A decoração cor de rosa do quarto de solteira estaria apropriada para receber os filhos, não fosse o tamanho da família. Carol divide o quarto com a irmã, Cátia, de 24 anos. Mas é por pouco tempo. Quando os quadrigêmeos nascerem, os pais de Carol vão ceder a suíte da casa para a nova família. Dona Carlita vai dormir no quarto de Cátia. E, o marido dela, com o filho caçula, Carlos Henrique, de doze anos. É o primeiro de muitos arranjos que a família vai ter de fazer para dar conta do recado.

A vinda dos quadrigêmeos deixa uma certa apreensão no ar. Uma mistura de preocupação, medo e ansiedade. São muitos meses pela frente. Exames, descobertas, desafios. A única certeza do casal, por enquanto, é a vontade de estar junto. "O Wesley já era carinhoso, agora tá mais ainda. Se ele me ligava cinco vezes, agora liga dez. Tudo dobrou." Carol entende bem de sentimentos, mas errou na conta. O amor não dobrou, Carol! Quadruplicou!

*Bastidores desta reportagem exibida pelo programa Domingo Espetacular, da Rede Record.


Por Patrícia Ferraz