quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Borboletas no estômago

Foto: Patrícia Ferraz - com inspiração de Gisele Bündchen
Vesti um all star, que era pra entrar no espírito. No desjejum, cafeína, para evitar o sono. Cheguei atrasada. Aliás, foi sempre assim, por que mudaria agora?

A professora, num vestido azul marinho envelopado, com ilhós dourados ao longo da gola canoa, explicava o programa da disciplina. Óculos finos de lentes grossas, cabelos de anjinho, do tipo gordinha fofa. Sandália impecável de verniz, bolsa Louis Vuitton dependurada num suporte de mesa. Fazia o melhor estilo mulher moderna.

Depois do diagnóstico visual detalhado e do átimo de vergonha por interromper a aula — vergonha tão recorrente, quanto passageira — consegui concentrar-me.

Os neurônios trabalhavam em marcha: eretos, atentos, aflitos por estabelecer nexos à altura da explanação. As mãos suadas denunciavam o corre-corre intracelular. O estômago queimava, enquanto os olhos, secos de não piscar, deslizavam, agitados, entre os poucos metros quadrados da sala apertada e quente. Era como se, com as pupilas dilatadas pelo café, eu pudesse absorver pelos olhos tudo o que era dito ali.

Não sei se a professora tinha uma voz bonita. Mas admirei como poesia cada vocábulo, cada sentença e, acima de tudo, cada pausa. Acho mesmo que os melhores trechos de qualquer discurso estão nas pausas. É quando se demonstra um respeito por quem ouve. E quando a gente tem tempo para ponderar a profundidade do que foi dito.

É provável que os outros vinte e poucos colegas não tenham ficado tão deslumbrados quanto eu no primeiro dia de aula do Mestrado. É que fiquei feliz sobretudo por me descobrir capaz, novamente, de me apaixonar por uma professora.

Por Patrícia Ferraz

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