sábado, 19 de julho de 2014

Ele me pediu um beijo*

Ele disse que a fé é como você estar pronto, em cima da montanha, para saltar de pára-quedas e se lançar no abismo. Ele disse que “Deus dá ao amado enquanto dorme”, portanto não tem nada de “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Disse que as crianças precisam de liberdade na aprendizagem. E, que se um reitor, um professor universitário ou de cursinho prestasse vestibular, não seria aprovado - assim como ele próprio não seria.

Ele me fez pensar na minha fé. Na minha busca por Deus. Ele me incitou a refletir sobre o valor do trabalho e a importância limitada que ele deve ter na vida. Mostrou com o próprio exemplo a grandiosidade do papel da família.

Acredito fielmente que ele merecia um texto mais poético, mais elaborado, mais criativo. O problema é que preciso dizer com todas as letras. Preciso explicar bem explicadinho, que estive hoje com o mestre Rubem Alves e, acreditem! Ele me pediu um beijo***.

Por Patrícia Ferraz**

*Este texto foi publicado no meu antigo blog, há cinco anos, dias depois de uma entrevista que fiz com Rubem Alves pela EPTV, em Campinas. Já admirava textos e frases deles. Fiquei ainda mais encantada com o senhorzinho careca e cabeça branca, que conseguia elogiar e ser gentil sem a menor sombra de machismo ou invasão de privacidade. 

**Nunca fui adepta de transformar mortos em heróis. Por tê-lo conhecido, mesmo que brevemente, posso dizer com segurança que esse homem era uma alma especial. Não só pela genialidade com palavras e ideias, mas por uma humanidade e uma doçura encantadoras. Na data de sua morte, celebremos a obra e os ensinamentos de Rubem Alves. Ele vai saber que conseguiu dar sentido à própria existência. 

*** Beijo no rosto, óbvio.

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