Reprodução de painel/Munique |
Havíamos acabado de pousar e seguíamos para o hotel em Munique. O taxista vietnamita disse que a BMW azul que fechou nosso carro nos seguia desde o aeroporto. "Polizei". Não devíamos nada. Mas, convenhamos, tomar uma geral num país em que você acaba de chegar e não sabe sequer uma palavra do idioma preocupa.
—Passport, please.
Entregamos os documentos sem sair do carro.
Silêncio.
—Brasileiros!
Só faltaram pular.
—O que vocês estão fazendo aqui?, disseram em inglês, graças a Deus. Imediatamente, a cara de mau deu lugar a um sorriso amistoso e começaram a falar de futebol. A Alemanha ainda não havia eliminado o Brasil. Faltavam algumas horas para a seleção deles estrear na Copa. Os tiras deram boas-vindas e nos liberaram sem abrir nenhuma mala ou fazer qualquer pergunta que não fosse relativa a Felipão, Neymar e Dante (descobri naquele momento que ele joga no Bayern).
A identidade do Brasil no exterior é sim marcada pelo futebol. Com exceção a um casal francês, anos atrás, que me perguntou sobre Oscar Niemeyer, sempre quando algum gringo recém conhecido enaltece o Brasil o tema é a bola. Pelo menos antes dos 7 a 1 era assim.
Como os policiais alemães, todos os estrangeiros que conhecemos na viagem não acreditavam que estávamos longe do Brasil justamente quando o Brasil sediava o mundial. Eu explicava que já gostei muito desse esporte, mas que andava desiludido. Falava também da relação entre a nossa política e o futebol, da histórica alienação do povo, da megalomania desta Copa, dos gastos excessivos com estádios e toda aquela ladainha que cansamos de repetir. Mas foi só a bola começar a rolar pra eu me mobilizar até a TV mais próxima e, claro, torcer pela nossa seleção.
Foto: Romeu Piccoli |
Campo de Concentração/Dachau |
Incrível como um país que ficou marcado pelo massacre aos judeus —simplesmente porque eram judeus— e que na Guerra Fria jogou no lixo os direitos individuais da população que vivia contida por um muro em sua metade oriental, hoje leve tão a sério a palavra respeito. Museus se proliferam pelas grandes cidades alemãs. Principalmente, sobre temas que eles não têm do que se orgulhar. Campos de concentração são mantidos para visitação. É como se fosse um alerta. Nós erramos e não podemos errar de novo, embora muitos ainda não tenham se livrado dos antigos preconceitos.
A campanha do time alemão na Copa é um retrato do que o país busca ser atualmente. Objetivo, eficiente, alegre (sim, eles são muito alegres) e respeitoso. Imagine se o Brasil estivesse ganhando de 7 de qualquer seleção. Neymar e companhia abusariam das firulas, dos dribles desnecessários, embalariam no coro de olé. Os alemães, pelo contrário, nos deram uma goleada de respeito. Não me parece que tudo isso seja apenas uma jogada de marketing para melhorar a imagem da pátria. Se for, é feita com maestria. De toda forma, a Alemanha mostrou que temos muito o que aprender com o atual país do futebol. E não só sobre futebol.
Foto: Romeu Piccoli |
Grafites no trecho preservado do Muro de Berlim |
Por Romeu Piccoli
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