Foto: Rik Ferraz |
Demétria tinha olhos grandes, expressivos, quase onipresentes. Mirava os acontecimentos ao redor e dentro de si com dramaticidade. Agarrava-se aos seus sofrimentos psíquicos como se fossem causa e consequência de sua existência.
A caixa proporcionava-lhe algo de seu, de especial, de diferente. Se não tinha o mundo, tinha um pequeno espaço. Se não tinha a si, escondia-se onde só os seus olhos pudessem pousar sobre tantas fraquezas.
A caixa proporcionava-lhe algo de seu, de especial, de diferente. Se não tinha o mundo, tinha um pequeno espaço. Se não tinha a si, escondia-se onde só os seus olhos pudessem pousar sobre tantas fraquezas.
Mas não era fácil ficar ali. Havia uma nuança de perversidade. Soava-lhe bonito sofrer como mártir. Qualquer conquista poderia assumir uma aparência maior do que de fato tinha. Essa era a grande sacada.
Para completar o ciclo, comparava-se com qualquer outro ser que lhe parecesse razoável. E sempre encontrava parâmetros para se diminuir. Não era a mais rápida na corrida; tampouco a mais sedutora; nem mesmo a mais inteligente da classe. Era uma menina ordinária, no sentido literal da expressão.
Embora em seu inconsciente estivesse inscrita a informação mais fidedigna a respeito de suas verdades – a de que suas dores eram menores do que lhe pareciam - Demétria preferia que tudo permanecesse assim. Orgulhava-se de ser “A menina da caixa de papelão”.
Ainda quando as partes estavam dobradas e sobrepostas, resumidas a um encarte compacto, havia de carregar seu refúgio nas costas. E aquilo tinha um peso do qual era tão difícil desfazer-se quanto manter.
Por Patrícia Ferraz
Excelente como sempre!!!!! Muito fã dos teus textos!!!! Obrigado por mais esse deleite Patricia Ferraz!
ResponderExcluirQue bom!!! Obrigada pelo apoio!!!
ExcluirFiquei com gosto de quero mais... Que pena, acabou tão rápido
ResponderExcluirPretendo dar novos capítulos para a história da Demétria... rsrs Aguarde, Rosa! Beijos
Excluir"E aquilo tinha um peso do qual era tão difícil desfazer-se quanto manter." muito bom.
ResponderExcluirPati, sou sua fã.
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